sexta-feira, 7 de agosto de 2009

OAB defende renúncia coletiva no Senado para pôr fim a calamidade institucional

Confira a seguir a íntegra da nota pública da OAB:


O Senado está em estado de calamidade institucional. A quebra de decoro parlamentar, protagonizada pelas lideranças dos principais partidos, com acusações recíprocas de espantosa gravidade e em baixo calão, configura quadro intolerável, que constrange e envergonha a nação. A democracia desmoraliza-se e corre risco.

A crise não se resume ao presidente da casa, embora o ponha em destaque. Mas é de toda a instituição - e envolve acusados e acusadores. Dissemina-se como metástase junto às bancadas, quer na constatação de que os múltiplos delitos, diariamente denunciados pela imprensa, configuram prática habitual de quase todos; quer na presença maciça de senadores sem voto (os suplentes), a exercer representação sem legitimidade; quer na constatação de que não se busca correção ética dos desvios, mas oportunidade política de desforra e de capitalização da indignação pública.

Não pode haver maior paradoxo - intolerável paradoxo - que senadores sem voto integrando o Conselho de Ética, com a missão de julgar colegas. Se a suplência sem votos já é, em si, indecorosa, torna-se absurda quando a ela se atribui a missão de presidir um órgão da responsabilidade do Conselho de Ética.

Em tal contexto, urge fornecer à cidadania instrumentos objetivos e democráticos de intervenção saneadora no processo político. A OAB encaminhou recentemente ao Congresso Nacional, no bojo de proposta de reforma política, sugestão para que o país adote o recall - instrumento de revogação de mandatos, aplicável pela sociedade a quem trair a delegação de que está investido.

Trata-se de instrumento já testado em outras democracias, como a norte-americana, com resultados positivos. O voto pertence ao eleitor, não ao eleito, que é apenas seu delegado. Traindo-o, deve perder a delegação. Não havendo, porém, tal recurso na legislação brasileira, prosperam discursos oportunistas, como o que sugere a extinção do Senado. A OAB é literalmente contra a extinção do Senado.

O Senado não pode ser confundido com os que mancham o seu nome. Precisa ser preservado, pois é o pilar do equilíbrio federativo. Diante, porém, do que assistimos, a sociedade já impôs à presente representação o recall moral. O ideal seria a renúncia dos senadores. Como não temos meios legais de impor esse ideal - único meio de sanear a instituição -, resta pleitear que se conceda algum espaço à reforma política, senão para salvar o atual Congresso, ao menos para garantir o futuro.

CEZAR BRITTO

PRESIDENTE DO CONSELHO FEDERAL DA ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL

2 comentários:

  1. Não se poderia esperar outra postura da OAB, que já esteve ao lado da democracia, até, em momentos de maior crise.
    A idéia de revogação dos mandatos é realmente pertinente. Contudo, nem o recall nem uma ampla reforma política parecem ser capazes de mudar radicalmente o quadro atual. Não se pode atribuir à Constituição ou às leis em geral o poder de mudar um país. A mudança passa, isto sim, por uma reforma da ética de parte do nosso povo, o que, convenhamos, é bem mais dificil de ocorrer no curto prazo.
    De qualquer sorte, a OAB está cumprindo, neste caso, o papel que dela se espera. Oxalá outras organizações façam o mesmo, despertando a cidadania.

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  2. Concordo com Marcos. Como contabilista, espero que o Conselho Federal de Contabilidade assuma postura idêntica. Na esteira, que saiam também da moita os conselhos de Medicina, Engenharia, Odontologia, etc, etc.

    A patifaria prospera onde encontra terreno fértil (omissão). Ou, como dizia minha sogra: "Cará quando acha terra boa, dá que racha"

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