sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Para críticos de Olimpíada, Rio deveria ter outras prioridades

ALESSANDRA CORRÊA
da BBC Brasil, em São Paulo

A escolha do Rio de Janeiro como sede dos Jogos Olímpicos de 2016 recebeu críticas de especialistas que consideram a realização do evento uma inversão de prioridades.

"O Brasil tem outras prioridades e carências sociais para serem resolvidas, como educação, saúde, esporte para todos, habitação", diz o advogado Alberto Murray Neto, ex-membro do COB (Comitê Olímpico Brasileiro), árbitro do Tribunal Arbitral do Esporte, em Lausanne (Suíça), e um dos principais críticos da realização da Olimpíada no Rio.
O alto custo do evento, calculado em mais de R$ 25 bilhões, as carências na infraestrutura do Rio em áreas como transporte e habitação, a falta de políticas públicas para o esporte e o temor de que os investimentos não se revertam em benefícios mais duradouros para a população são alguns dos problemas apontados por críticos.

"Eu entendo a opção do governo brasileiro como meio de propaganda, de projetar uma imagem mais favorável do próprio Rio, das repercussões econômicas para o turismo. Mas o custo é muito elevado", diz o economista Gustavo Zimmermann, professor de Economia do Setor Público da Unicamp.

Segurança

Zimmermann diz reconhecer os benefícios que os Jogos trarão em termos de projeção de autoestima do Brasil, mas considera muito pouco frente aos gastos necessários.

"Os recursos são escassos, e o Rio tem outras prioridades. Por exemplo, o estabelecimento de um plano de segurança", afirma.

A segurança é considerada um dos principais gargalos na estrutura do Rio para abrigar um evento como os Jogos Olímpicos.

O economista Daniel Motta, professor de Economia e Estratégia do Insper (ex-Ibmec/SP), cita o exemplo dos Jogos Pan-Americanos, realizados na cidade em 2007, como mostra de que é possível garantir a segurança de um evento de grande porte.

"Nos bastidores, sabemos que o Exército teve que atuar, a polícia teve um esforço concentrado. Mas não tivermos nenhum incidente com segurança", afirma.

No entanto, segundo Zimmermann, a segurança durante os Jogos Olímpicos não será mantida depois do término do evento. "Não vai proteger o cidadão no dia-a-dia", diz.

Infraestrutura

O presidente do Crea-RJ (Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia do Rio de Janeiro), Agostinho Guerreiro, diz ter torcido pela escolha do Rio e estar satisfeito com a vitória, mas afirma que a cidade não está preparada para os Jogos de 2016.

"É um problema que não começou agora, vem de mais de 20 anos de descaso com alguns setores importantes da cidade", diz.

Guerreiro cita o setor de transportes, que diz considerar deficiente. "Houve um abandono na área de transportes, que privilegiou ônibus e vans em detrimento de metrôs e trens. É um sistema que, para a Olimpíada, somente funcionará se houver mudança radical", afirma.

Outro setor deficiente apontado pelos especialistas ouvidos pela BBC Brasil é o de habitação e hotelaria.

"A rede hoteleira tem uma deficiência incrível de leitos", diz o presidente do Crea-RJ. "Temos seis anos pela frente, acho que é possível. Mas teremos de tirar o atraso de mais de 20 anos de descaso na área habitacional, de abandono das favelas, do saneamento."

Guerreiro afirma que o principal problema é a falta de recursos. No entanto, o presidente do Crea-RJ diz acreditar que a maioria dos investimentos realizados para os Jogos Olímpicos serão permanentes.

2 comentários:

  1. UBERLÂNDIA-MG, 2 de outubro de 2009.

    Prezado Wilson,

    Sou um Cidadão sem muitas preocupações quanto à prática de esportes, mas hoje, também me fiz participar da comoção nacional que gerou este Evento, e de todos os Projetos que virão daqui para frente.

    O compromisso está feito. Ao trabalho.

    Somente quem já teve oportunidade de viver o dia-a-dia caótico dos Cariocas, para ter noção do tamanho do desafio que virá, e em todos os setores.

    Altíssimos investimentos em infraestrutura, tropeços na própria burocracia brasileira, euforia dos partidários, má-fé dos oportunistas e críticos de plantão, teremos matérias para vários debates & discussões.

    Comovente também, foi a tristeza dos que não foram "agraciados" com tamanha honraria.

    Tomara que tenhamos muitos postos de trabalho. Emprego para milhares de pessoas nas Cidades diretamente envolvidas.

    Quem sabe, isso resolverá uma tremenda necessidade, sempre utilizada como justificativa para o aumento da criminalidade ?!

    Quem sabe, temporariamente sob os olhos do mundo, nossos Políticos e Empreiteiros cumprirão suas missões técnicas com Ética, aproveitando o Evento para Promoção, e não apenas "apropriação" ?!

    Certamente que o País inteiro tem outras prioridades, necessidades básicas por demais, para ficar em segundo plano.

    Vamos dar crédito a mais este Projeto, porém, sem deixar de cobrar e reinvidicar o que necessitamos.

    De uma certa forma, um lugar maravilhoso na Mídia, abençoada pelo Ícone Maior da nossa religiosidade, de braços abertos ao mundo...

    Atenciosamente,
    Janis Peters Grants.

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  2. Também penso que o país tem outras (muitas) prioridades. Políticas públicas abandonadas à própria sorte dão o tom do caos generalizado.

    Pra reforçar a tese, um dado preocupante foi divulgado na imprensa nesta semana. No último ano, o governo federal aumentou o gasto com a FOLHA DE PAGAMENTO em R$ 15 bilhões. Montante muito maior do que todo o gasto com investimento em infraestrutura em todo o país.

    É esse tipo de gente quem vai "administrar" sabe-se lá como os US$ 14,4 bilhões previstos para a Olimpíada. Sou adepto dos esportes.

    Mas o Brasil precisava cuidar primeiro de muitas outras carências, para depois pensar em investimentos de tal monta.

    Até porque, o (mau) exemplo do Pan não deixa dúvidas da nossa incompetência, má-fé e omissão em relação a gastos públicos.

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