Por Dom Benedito de Ulhoa Vieira
Arcebispo Emérito de Uberaba e membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro
Hoje, festa da Eucaristia, exultam os cristãos por terem tão perto de si a presença adorável de nosso Deus. Abro o Evangelho e leio o que o discípulo amado, João Evangelista, nos narra sobre a Eucaristia.
Após ter multiplicado os pães para saciar a multidão que costumava segui-lo, Jesus prometeu um outro pão – a sua carne - e outra bebida – o seu sangue. Era realmente de espantar esta promessa singular. Houve quem, naquele momento – e foram muitos – o abandonaram ao ouvir: “o pão que eu darei é minha carne para a vida do mundo” (Jo 6, 52).
Muitos se afastaram, escandalizados com esta promessa, até aquele dia, inaudita. Mas o Senhor reafirmou: “Quem come minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna” (vers. 55). Foi Pedro, o mais espontâneo dos doze, que respondeu, quando Jesus perguntou se também eles queriam ir-se embora: “Para quem iremos? Tuas palavras são palavras de vida eterna” (vers. 69).
Hoje, os que creem na veracidade de Cristo, verdade eterna, nos reunimos ao redor do altar, para um encontro com o Salvador. Na brancura da hóstia consagrada firmamos nossa fé inabalável na presença real de Jesus Cristo. Não é figura, não é símbolo, não é imagem: é Ele, o Senhor. A palavra de Jesus não pode suscitar dúvida, porque Ele é a verdade. Na última ceia, a promessa do Senhor se realizou.
A mais alta inteligência cristã no decorrer dos séculos foi por certo Santo Agostinho. Num dos seus sermões, ele diz ao povo: “Aquele que possui ocultamente uma excelsa moradia, tem igualmente na terra seu tabernáculo”. E mais adiante diz: “Fora deste tabernáculo estarei procurando meu Deus num tabernáculo errado”. E acrescenta: “Ali Ele habita, de lá me olha (...), me governa, cuida de mim, me incita, chama, dirige, conduz e guia” (Sermão 41).
Santo Tomás, outro santo de inteligência fulgurante, deixa para a posteridade toda a doutrina dogmática sobre a Eucaristia em versos latinos de singular beleza. Recordando a cena de Tomé que duvidou da ressurreição de Jesus, mas tocando-O, proclamou a sua fé no Ressuscitado. Santo Tomás recita: “Não vejo vossas chagas qual Tomé, porém confesso a vossa divindade. Dai-me cada vez mais acreditar, ter esperança em Vós e vos amar”.
Festa do Corpo de Deus: lúcido ato de fé, um suspiro de esperança, cálido anelo de amor.
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