sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Paulistas estão adquirindo universidades mineiras

A pauliceia desvairada e o ensino em Minas
"Pauliceia Desvairada" é o título do livro de poemas de Mário de
Andrade, publicado em 1922, cujos prefácio e poemas arrombaram as
comportas do romantismo da poesia brasileira e se constituíram no
marco inicial da revolução modernista no Brasil. Estou usando o título do
livro famoso e peça essencial de nossa literatura para chamar a atenção
dos mineiros ao desvario dos paulistas em sua caminhada para ocupar
todos os espaços do ensino em Minas Gerais. Há perigos nisso,
pergunto, para responder que é necessário esclarecer bem essa
questão, sob pena de vermos toda a educação submetida ao controle
ideológico do Ministério da Educação, dominado por paulistas e
submetido a certa ideologização distante do pensamento mineiro. Como
exemplo, poderíamos citar a recente aquisição por empresas de ensino
de São Paulo das universidades UNI-BH, UNA, Newton Paiva,
Metropolitana e, certamente, de outras cujos nomes permanecem
guardados nos impenetráveis segredos dos negócios. Até aí, nada
demais. Ocorre que recente decisão do Supremo, atualmente em grau
de recurso pelos embargos de declaração apresentados pela Assembleia
Legislativa, resolveu declarar inconstitucionais os artigos 81 e 82 do Ato
das Disposições Transitórias da Constituição Mineira, que dava
atribuições ao Conselho Estadual de Educação para criar universidades e
incorporá-las ao sistema estadual de ensino. Noves fora a discussão
jurídica em torno do assunto, o problema político é que todo o sistema
estadual de ensino de nível superior estará, caso sejam rejeitados os
embargos, submetido ao talante dos paulistas, resultando daí
mutilações e deformações que poderão resultar na morte por inanição
das escolas mineiras, incapazes de suportar os ônus que a elas serão
impostos pela supremacia da pauliceia desvairada. O assunto é por
demais controvertido para ser confinado a simples artigo de jornal, mas
do ponto de vista político é necessário aumentar as cautelas e a
vigilância para não permitir que o avanço da plutocracia paulista sobre o
ensino mineiro seja contaminado pelo processo de crescente
esquerdização do Brasil nos últimos tempos e que em São Paulo ganhou
surpreendente impulso. É cediça a afirmação referente à má qualidade
do ensino fundamental nas diversas regiões deste imenso território
nacional. Em lugar de prover as carências que o assolam e o
prejudicam, carências e prejuízos refletidos no alunado cada vez mais
atrasado e mal formado, o governo federal está se preocupando em
retirar parcela da autonomia dos Estados federados para, numa política
centralizadora, estabelecer diretrizes sobre o ensino superior sem
sequer haver resolvido a questão do ensino fundamental. Pior de tudo,
neste emaranhado de decisões equivocadas, é a circunstância sinistra
de ninguém se preocupar com o volume de corrupção e desmandos,
objetos da denúncia do senador Jarbas Vasconcelos e ontem mais uma
vez comprovada pela deslavada mentira governamental sobre os gastos
com a farra dos prefeitos em Brasília.
Murilo Badaró
Da Academia Mineira de Letras
mbadaro@uai.com.br
Publicado em: 21/02/2009 – Jornal O Tempo

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