domingo, 1 de fevereiro de 2009

Faculdade abortada - a ferida de 50 anos que não cicatriza


“FACULDADE DE DIREITO DE ARAGUARI
Para citar um exemplo frisante deste meu estilo, certa feita lancei a idéia da criação e instalação, em Araguari, de uma Faculdade de Direito. Meti mãos à obra: fui ao Rio e consegui do Ministro da Educação, o saudoso professor Clóvis Salgado, por sinal muito amigo de Araguari (leia-se Oabi Gebrim- nota da coluna). Ele me recomendou aos órgãos do Ministério, inclusive ao Delegado Regional em Minas Gerais, para facilitar tudo e obter todo o apoio para aquela nova faculdade, que eu considerava necessária na região porque somente Uberaba possuía a tal Faculdade. Fui ao Juscelino, em Brasília, que se entusiasmou com a minha idéia e expediu a autorização para o início do processo. Aí, fiz respectivas viagens a Araguari e, colocando a reivindicação acima do interesse político partidário, tive o cuidado de acionar a Sociedade dos Amigos de Araguari então presidida por Mário Abdala e depois pelo vereador Romeu Duarte, para, junto comigo, coordenar as medidas necessárias para concretizar a grande reivindicação. Isso foi por volta de 1958-1959.”


O colunista Ronaldo César Borges (Gazeta) em sua coluna semanal ‘Drops’ deste dia 31.01 mexeu na ferida. Trouxe à tona recortes de obra literária do então deputado estadual de Estrela do Sul, Lourival Brasil Filho. E trata exatamente sobre o lamentável episódio da Faculdade de Direito que um grupo de Araguari não quis.
Ler jornais às vezes dá azia – comentou recentemente o presidente Lula. E devo confessar que em determinados momentos dá mesmo. Dá azia, no caso em epígrafe, não pelo que escreveu o Ronaldo, mas pelo terrível episódio ocorrido em Araguari há 50 anos: abortaram a nossa faculdade de forma mesquinha.
O ferida que para os mais jovens parece meio lendária, abafada na história, permeada por certas dúvidas colocadas para confundir a opinião e o povo araguarino, agora vem à tona bem documentada. Não é folclore, nem intriga ou boatos como alguns tentaram imprimir a este caso: infelizmente, é real.
Quero adquirir a obra do Lourival Brasil para me inteirar melhor dos fatos reais. Mas pelos recortes da publicação no Gazeta dá para entender como tudo ocorreu. É realmente de doer o coração, amargar a saliva, dar taquicardia. Assassinaram, abortaram, chutaram, desprezaram, ignoraram ...... a nossa faculdade de direito, que seria o embrião para a implantação da Universidade.
O mal cometido à cidade por esses ‘rapazinhos’ que barraram a faculdade é incalculável. Mancha mesmo a nossa história de uma forma deplorável, exacerbando
a mentalidade caciquista à qual fomos submetidos.
O pior de tudo isso é que o restante da comunidade se acovardou, não apoiou a iniciativa, deixando Jacy de Assis, de Uberlândia, pegar toda documentação e instalar a faculdade a 30 quilômetros daqui e como já é do conhecimento de todos, hoje Universidade Federal de Uberlândia.
Apesar de ser um fato de 50 anos atrás, demonstra que Araguari deixou a opinião de uma minoria prevalecer, num ato político medíocre. Ao que se sabe da história, parte da elite política da época ficou contrariada com a boa votação do deputado Lourival Brasil em Araguari e por isso não quis apoiar suas inciativas, fechando o cerco para que não crescesse mais. Por conta dessa “dor de cotovelos” dos nossos laboriosos políticos cometeram o assassinato da faculdade. Uma omissão, assistida de braços cruzados, e que ainda se repete em episódios diferentes.
O ranço do coronelismo ainda não foi totalmente extirpado dos nossos ares, impregnados por injustiças, perseguições, desmandos, ditadura. Herança maldita, deixada por políticos egoístas ainda refletem e pesam sobre nossos ombros, pois sofremos as conseqüências de tantos erros, que culminaram na nossa estagnação por mais de 4 décadas.
Os resquícios da ditadura surgiram mesmo antes de 1964 e estão por aí. Impondo vontades e promovendo perseguições. E a submissão é aceita, pois muitos preferem se esconder na omissão, porque isso vai ferir o fulano e o sicrano. Alguns dizem “tenho medo de ser perseguido” ou “deixa isso pra lá não quero confusão” e por aí vamos, fechando os olhos para o Caso Irmãos Naves, sendo medrosos ante a arrogância política dos que barraram a faculdade de direito, acreditando em autoridades que cometem injustiças, vendo impassivamente movimentos contra o progresso da cidade em nome de poucos na tentativa de barrar o shoping center e vai por aí .......
Parabéns Ronaldo pelo assunto que nos envergonha não apenas pelo grupo contrário, mas pela grande maioria surda e muda que se acovardou. Contudo, possamos aprender com os erros do passado, vislumbrando construir uma história diferente no presente e no futuro.

Um comentário:

  1. Na época da proposta de instalação do curso de Medicina, da Unipac, como diretor da ADESA, eu participei das reuniões de sensibilização da sociedade, juntamente com, por exemplo, Dr. Neiton de Paiva, Sebastião Totó, Antônio Carlos Antonietti, Wilson Prado e outros. (Como sempre, a ausência de membros do Poder Legislativo foi notada).

    A Unimed Araguari trouxe à cidade o então presidente do CONSELHO REGIONAL DE MEDICINA de Minas Gerais, para articular um movimento CONTRÁRIO à criação do curso de Medicina.

    Ninguém me contou isso não: eu PARTICIPEI da reunião, como ouvinte, pois na época era gerente da Unimed. Ironicamente, hoje, alguns daqueles médicos presentes à reunião e defensores do veto à instalação, são professores do curso de Medicina.

    A História nos dá sempre a oportunidade de sermos agentes no processo. Cada um escolhe seu papel. E o tempo se encarrega de colocar tudo em seu devido lugar.

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