segunda-feira, 9 de junho de 2008
Cidade mineira se divide entre "partido dos veados" e "partido dos carangejos"
UAI
Andrelândia(MG) – PT, PSDB, PMDB ou qualquer outro partido registrado no Tribunal Regional Eleitoral(TRE) não têm vez na cidade histórica de Andrelândia, a 300 quilômetros ao Sul de Belo Horizonte. Essas siglas são praticamente desconhecidas e ignoradas pelos eleitores e os políticos tradicionais do município. Desde a época do Império, a hegemonia política do município é disputada por duas facções rivais: o Partido dos Veados, controlado pelos herdeiros do coronel José Bonifácio de Azevedo, e o Partido dos Caranguejos , que agrupa os descendentes do Visconde Antônio Belfort Ribeiro de Arantes, homem de confiança do imperador dom. Pedro II.
Marcada por história de assassinados, amores proibidos e manobras típicas dos políticos mineiros, a rivalidade política das duas facções conseguiu sobreviver à promulgação da República, às ditaduras do presidente Getúlio Vargas e dos militares nos anos de chumbo, mantendo-se intacta até hoje.
“Em Andrelândia, ninguém fala se é do PMDB, do PT ou de qualquer outro partido . Essas siglas só existem no papel por exigência legal. Aqui no município, ou se é veado ou se é caranguejo”, afirma Maria do Carmo Almeida de Souza. presidente do Conselho de Patrimônio Cultural do município.
De acordo com os registros históricos da região, a rivalidade dos dois grupos teve início em 1884, quando o coronel José Bonifácio de Azevedo conseguiu pela primeira vez quebrar a hegemonia política do Visconde Arantes ao se eleger presidente da Câmara do Município pelo Partido Republicano do Turvo (antigo nome de Andrelândia). Inconformado com a derrota, o Visconde Arantes teria feito um desabafo a seus seguidores. “Não é possível que nossos votos tenham diminuído tanto. Andamos para trás. Parecemos caranguejos”. Estampada com humor pelos jornais da época, a frase do Visconde deu origem ao nome do grupo político que conseguiu se manter vivo escamoteado em outras siglas partidárias. O surgimento do Partido dos Veados também estaria relacionado à vitória do coronel Bonifácio. Segundo os jornais da época, ao vencer as eleições os seguidores de Bonifácio pulavam como cervos pelas ruas. “Um verdadeiro pulo para frente como dá o veado, quando está sendo perseguido”. O coronel gostou do nome, que chegou a ser estampado em uma de suas empresas: a Fábrica de Manteiga dos Veados.
Passados mais de 100 anos, os emblemas dos dois bichos continuam a colorir as ruas das cidades em época de eleições. “Sempre fazendo o melhor”, diz o emblema dos Caranguejos espalhados pelas ruas, que escolheram o bancário Samuel Isac Fonseca, do PSDB, como pré-candidato a prefeito. “Veado para sempre”, diz o adesivo pregado no carro da empresária Nair de Azevedo Rezende, bisneta do coronel Bonifácio e dirigente fanática do Partido dos Veados, que usa o PMDB para disputar as eleições. Apesar de o Partido do Veados ainda não ter escolhido o candidato, Nair prevê uma vitória esmagadora nas eleições. ”Lançaremos o candidato na última hora para pegar os caranguejos de surpresa”. Ninguém aguenta mais oito anos de administração dos caranguejos, que só sabem fazer calçamentos nas ruas”. Os caranguejos também já cantam vitória. “O prefeito Francisco Carlos Rivelli, caranguejo nato, fez uma administração de oito anos voltada para a área social, ao contrário do veados, que são elitistas. Por isso, estamos liderando as pesquisas”, afirma Samuel Isac.
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