A decisão da Igreja Católica de se opor e até ameaçar de suspensão os padres que disputarem as eleições para prefeito e vereador este ano em Minas Gerais causa polêmica, gerando críticas por parte dos sacerdotes que já têm militância política no estado. A disputa de cargos eletivos por párocos foi condenada no documento “Cartas dos Bispos de Minas Gerais e Espírito Santo sobre as eleições de 2008”, aprovado em encontro da Regional Leste 2 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Para o padre Luiz Araújo Ferreira (PT), prefeito de Bonfinópolis de Minas (Noroeste do estado), com essa postura, a CNBB “deu um passo atrás no processo de integração entre a fé a vida”. O padre José Vicente Damasceno (PPS), que já foi prefeito de Buritis (também no Noroeste), acentua: “acho que a Igreja perdeu a percepção de ser o sal (o sinal) da terra na política”.
O documento foi divulgado na assembléia da Regional Leste 2 (que reúne as arquidioceses de Minas e do Espírito Santo) da CNBB, realizada em Belo Horizonte, entre 2 e 5 de junho. De acordo com o texto, “o padre que se candidatar a cargos executivos ou legislativos não contará com a aprovação da Igreja, deverá deixar o seu ofício eclesiástico e ficará, durante a campanha eleitoral e o exercício de eventual mandato, com restrições, ou até mesmo suspensão, do seu uso de ordem”. A carta, divulgada na semana passada, também reclama de religiosos filiados a partidos políticos. Na véspera das eleições de 2004, a Igreja também divulgou documento contrário à participação dos padres no pleito. Mesmo assim, naquele ano, sete sacerdotes foram eleitos prefeitos em Minas.
Reeleição
Um dos que venceram a última eleição foi Luiz Araújo Ferreira, que, desde que assumiu a chefia do Executivo, se licenciou da função religiosa e agora se prepara para concorrer à reeleição na cidade de 6,1 mil habitantes, a 532 quilômetros de Belo Horizonte. Ele critica abertamente a postura da CNBB. “Entendo que a Igreja Católica está querendo preservar a instituição e assegurar a dedicação do sacerdote a ela, em tempo integral. Mas, numa conjuntura do século 21, a sociedade quer a participação de todos e quer ver a integração fé e política. Então, com esta decisão, a CNBB dá um passo atrás no processo de integração entre fé e a vida”, afirma o padre/prefeito de Bonfinópolis.
Para ele, a política é “um campo para o exercício da caridade, de praticar o bem comum e desencadear uma administração pública num município, de tal forma que possa contemplar a coletividade, ao máximo”. Araújo Ferreira salientou que o padre, com a sua formação religiosa, tem a oportunidade de servir à comunidade também no exercício do cargo eletivo. Nesse contexto, classificou como “lamentável” a postura dos seus superiores. “Respeito e compreendo a posição da CNBB, mas também entendo que é lamentável podar as oportunidades para os sacerdotes”, observou.
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