sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Editorial do JORNAL Contudo 14.11.08

BAJULAÇÃO
Poucas áreas da atividade humana prestam-se tanto ao exercício das atitudes de subserviência e subalternidade interesseira quanto a política
A política lida com um valor que é muito cobiçado: o poder, e o séqüito de atributos sociais que nele estão pendurados, como o status, o prestígio social, as oportunidades de negócio, a satisfação da vaidade pessoal, o sentido de importância pessoal, a condição de celebridade, a capacidade de fazer valer sua vontade sobre outros, para citar apenas os mais óbvios.
A política, portanto, e o poder que dentro dela e por meio dela se conquista, atrai bajuladores para os seus círculos como a luz atrai as mariposas de verão.
No interior deste mundo encontram-se os poderosos, pontos focais das atenções, dos agrados, da bajulação, da busca de acesso e proximidade, tanto pela capacidade de usar seu poder para gratificar, escolher, promover, prestigiar, como para prejudicar, para perseguir, punir, excluir... Para a maioria das pessoas - em todos os tempos e lugares - a bajulação, o elogio, a adulação, é considerada - justificadamente - o caminho mais curto e seguro para chegar ao coração do poderoso.
A importância da função de governar, as responsabilidades indelegáveis, os riscos pessoais e políticos, legitimam aquela cobiçada condição hierárquica superior, e a correspondente deferência e respeito com que são tratados os governantes.
A bajulação e a adulação são as caricaturas das atitudes cívicas e viris de consideração, respeito e deferência para com a autoridade.
Não há como ignorar que são os poderosos, as autoridades, que geram os aduladores. Fossem eles mais resistentes e indiferentes às adulações, elas não seriam praticadas com tanta freqüência. São porque, por certo, produzem os resultados desejados.
A bajulação é um daqueles doces venenos que o governante gosta de ingerir.
O governante prudente sabe que a maioria dos elogios que recebe são falsos, são atos de bajulação interessada.
O governante prudente deve escolher homens sábios, que dele tenham a permissão de dizer a verdade, mas somente a respeito daquilo que lhes é perguntado
Portanto é preciso ter cuidado com os elogios. Eles embriagam, e entorpecem o espírito crítico.
Além disso, a equação - de 15 elogios, 14 são falsos - é sempre uma valiosa lembrança. Ela pode ser exagerada, mas está no rumo da realidade.
E, ademais, como disse Sigmund Freud o pai da psicanálise: “Podemos nos defender de um ataque, mas somos indefesos a um elogio” e isso realmente é fato inconteste.

Um comentário:

  1. Concordo.

    E nesse contexto, quem não age como "baba-ovo" ganha fama de intransigente.

    Enquanto isso, a cidadania e o interesse público vão ficando cada vez mais alijados.

    ResponderExcluir