Do Jornal Contudo 04.03.08
Após quase dois anos do acontecimento de oito assassinatos em série vitimando mulheres na cidade de Araguari e da prisão do carroceiro Eurípedes Martins, 39 anos, o “Euripão”, acusado de assassinar cinco delas, foi preso no município de Aparecida de Goiânia (GO), na manhã do último sábado (1º) e transferido para Araguari na tarde de ontem (03), o agente penitenciário José Avelino Júnior, 40 anos, suspeito de estar envolvido nos crimes. A prisão foi decretada pela Juíza de Direito Soraya Brasileiro no inicio da semana, atendendo solicitação da Promotora Cristina Fagundes Siqueira. “Durante as investigações dos inquéritos policiais, nos quais inclusive já foi oferecida denúncia contra Eurípedes Martins, em outros três inquéritos policiais ainda em andamento e em aberto quanto à apuração da autoria do total das oito mortes de mulheres que aconteceram em Araguari, o nome do José Avelino Júnior foi citado como sendo um Pai de Santo, residente em Goiânia, que também teria contatos diretos com alguns Pais de Santos de Araguari e de Centros que o Eurípedes, principal suspeito, freqüentava. Então fez-se esta ligação entre Eurípedes e José Avelino. Não só o Eurípedes citou o José Avelino como sendo uma pessoa que aparecia na cidade em um Monza escuro, que era tido como mandão em relação às mortes, mas também outras testemunhas citavam esta freqüência de José Avelino à cidade em um carro escuro, que era citado por testemunhas que o viam em locais próximos à abordagem das vítimas. Este carro, desde o princípio, foi muito citado e foi ligado a isso tanto pelo Eurípedes quanto por outras testemunhas. Através desses indícios é que se decretou a prisão temporária de José Avelino”, explicou a Promotora. José Avelino foi trazido para Araguari através de uma parceria entre as Polícias Militares de Minas Gerais e de Goiás, chegando ao Fórum Oswaldo Pierucetti para se apresentar à Justiça por volta das 16h. O suspeito foi ouvido pela promotora Cristina Fagundes Siqueira durante aproximadamente quatro horas, período em que também foi colocado frente à frente com “Euripão” para uma acariação. “O acusado nega a autoria dos crimes, mas confirma que realmente esteve em Araguari várias vezes, que tem familiares aqui, que já residiu aqui, confirma que é praticante de Candomblé, de Umbanda, nega que na prática delas seja feito algum sacrifício humano, confirma que são feitos sacrifícios de animais e a ligação com as pessoas que o citaram. Diz conhecer essas pessoas, exceto o Eurípedes, que diz que não se lembra. Mas o Eurípedes foi colocado frente a frente com ele e confirmou que o conhece deste lugar”, relatou a Promotora à imprensa. Segundo Cristina Fagundes, a oitiva do suspeito foi importante no sentido de confirmar os elos que se tinha em relação a ele. “A maior novidade é a confirmação dos elos. Ele não nega a prática deste tipo de religião que sempre esteve claro no processo que foi a motivação dos crimes, nunca dispensou em outra motivação senão o uso destas vítimas em rituais de magia negra. Essa confirmação é um dado importante e é o caminho que vai ser trilhado agora”, informou. Um fato observado pela Promotora foi a forte ligação entre as características físicas do suspeito e o retrato falado emitido à época. Segundo ela, um fato muito importante para as investigações. Ainda segundo Cristina Siqueira, existem referências não formais quanto à participação de mais pessoas conhecidas nos crimes. “Quanto às referências formais no processo que nós temos já estão decretadas as prisões, inclusive a prisão de José Avelino foi decretada por causa dessa referência formal que nós tínhamos no processo”, esclareceu. Em seu depoimento, o acusado não citou datas específicas em que esteve em Araguari. Disse apenas que vinha com freqüência à cidade para visitar os pais que aqui ficaram. Ele também foi casado com uma mulher da cidade, portanto, tem muitos vínculos familiares aqui. Com relação às conclusões, Cristina é moderada: “Não tenho conclusões ainda em nenhum sentido. Tenho a confirmação dos elos que estavam transparentes no processo. Ele mesmo confirmou estes elos. Apenas estes elos não são suficientes para que haja uma conclusão quanto à participação ou autoria nos crimes”, disse, ressaltando ainda que o trabalho será executado nestas linhas investigativas. Fernando de Almeida Santos, advogado do acusado, alegou que José Avelino ao menos tem conhecimento dos assassinatos. “José Avelino é agente penitenciário em Goiânia desde 1990, não tendo nenhuma falta disciplinar na ficha dele. Ele foi trazido para Araguari para prestar esclarecimentos, uma vez que foi citado nos depoimentos. Ele nem tem conhecimento dos fatos e vem muito pouco à cidade. Isso será comprovado porque como ele é funcionário público, possui os cartões de ponto que serão trazidos e colocados no processo”, disse ele. O acusado está citado no conjunto dos oito crimes que aconteceram. “Desde que nós denunciamos o Eurípedes pelos cinco crimes que ele já foi denunciado, nós sabíamos, até pelas declarações dele mesmo, da possível participação de outras pessoas além dele. Então, até mesmo naqueles processos que o Eurípedes já está denunciado estão sendo feitas ainda investigações sobre participações, autorias e co-autorias de outras pessoas”, disse a Promotora. José Avelino Júnior teve prisão temporária decretada. “A prisão temporária tem um prazo de 30 dias, que é justamente o prazo necessário para que possamos prosseguir nas investigações e chegarmos a alguma conclusão. Quando tivermos a conclusão, se ela for quanto à participação dele, será oferecida denúncia e aí sim pedida a prisão preventiva”, concluiu Cristina Fagundes Siqueira.
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