Especialistas ouvidos pelo G1 aconselham analisar passado do candidato.
É importante saber as atribuições de cada cargo.
MARIA ANGÉLICA OLIVEIRA Do G1, em São Paulo
Em outubro, prefeitos e vereadores serão escolhidos pelo voto. O G1 procurou especialistas para saber como escolher um bom candidato. Não há fórmulas, eles alertam, mas alguns cuidados podem evitar o risco de arrependimento.
Para especialistas, as eleições municipais facilitam o processo de escolha do candidato porque, nesses casos, o eleitor está mais próximo dos políticos. Às vezes o candidato é um comerciante local, uma liderança de alguma entidade, um profissional conhecido, alguém que talvez está na esquina de casa.
É a proximidade com o político que torna mais fácil seguir a primeira dica: examinar a vida pregressa do candidato.
A filtragem de um candidato “ficha suja” ou “ficha limpa” cabe mais ao eleitor do que à Justiça Eleitoral, já que o único impedimento que a lei coloca ao candidato em relação ao seu passado é não ter condenação transitada em julgado, ou seja, não ter sentença condenatória definitiva (sem possibilidade de recurso).
A dica sobre a vida pregressa não se refere apenas a processos, escândalos e denúncias de corrupção, mas também a compromissos assumidos em eleições passadas e promessas formuladas (cumpridas ou não).
“Se em um ano, o político prometeu que faria algo e quatro anos depois vem e diz que é exatamente o contrário, isso mostra que ele não tem uma palavra constante. Não quer dizer que ele não possa mudar de opinião, mas tem que explicar muito bem porque muda [de opinião] em assuntos fundamentais. Se ele é favorável à privatização da saúde pública e quatro anos depois é a favor da estatização da saúde pública, é um problema. Você não muda tão radicalmente de um campo para outro”, afirma o professor de filosofia política e ética da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Roberto Romano.
Também vale verificar a atuação anterior do candidato, antes de ele se tornar um político. “Servidor público não se faz do dia para a noite. Tem que analisar se ele teve atuação comunitária, se é uma pessoa com sintomas claros de liderança, se é uma pessoa com sinais evidentes de ser solidário com as pessoas que precisam”, explica diretor-executivo da União dos Vereadores do Brasil (UVB), Sebastião Misiara.
Por dentro das atribuições
Para Misiara, o candidato não pode “sair do nada”. “Se um bombeiro salvou a vida de uma criança, virou notícia local, estadual e nacional, nem por isso vai ser um bom vereador”, exemplifica.
O vereador precisa conhecer o funcionamento do município, o orçamento e a lei orgânica da cidade porque, além de propor e votar projetos de lei, vai aprovar e fiscalizar a aplicação do dinheiro que a cidade tem em caixa e analisar as contas do prefeito.
Apenas boas idéias também não bastam para o candidato a prefeito. O presidente da Confederação Nacional dos Municípios (CNM), Paulo Ziulkoski, diz que quem se candidata a dirigir um município tem que ser um bom gestor: conhecer as leis, o orçamento, ter boa capacidade de avaliação e criatividade.
“Se você escolher um mau gestor, ele afunda [o município] não só por aquela gestão, mas por muitas décadas, porque os efeitos são prolongados. Terminou aquele improviso. Tem que entender e planejar, saber quanto arrecada, quanto gasta e como é que se gasta”, explica.
'Ponte para a Lua'
Entender o funcionamento do município e as atribuições de cada cargo também é importante para o eleitor, principalmente para se saber reconhecer falsas promessas.
“Tem candidato a vereador que promete ponte para a Lua. E aí o sujeito acredita, cai nessa historinha e depois se arrepende. Então, tem que conhecer o limite do cargo em disputa”, diz o cientista político Humberto Dantas, conselheiro do Movimento Voto Consciente.
Não é difícil encontrar um candidato a vereador que prometa fazer obras. É bom lembrar que isto não é função do vereador, mas sim do prefeito. “Eles chegam e dizem: 'Vou fazer uma escola, vou fazer uma creche'. Mas não pode”, explica Amália Sylos, voluntária da entidade.
‘Inmetro da política’
Procurar se aproximar do candidato, conhecer seu partido e suas propostas básicas é tão importante quanto olhar a propaganda de forma crítica.
“A dona de casa não compra o sabão em pó só pela propaganda. A propaganda a leva a comprar, mas se o sabão não presta, se mancha a roupa, ela não compra mais. Assim, a propaganda deve chamar a atenção para o candidato, para o programa, mas o que a propaganda faz, na maior parte do tempo, é embelezar o produto. Portanto, é preciso testar a qualidade do produto. É preciso procurar o Inmetro da política”, diz Roberto Romano.
Para Amália Sylos, a propaganda eleitoral gratuita no rádio e na TV não é uma boa forma de se analisar um candidato. “Na última eleição, houve 1,5 mil candidatos a vereador em São Paulo. Você imagina quantos segundos essa gente apareceu. Os partidos jogam [no rádio e na TV] aqueles que são puxadores de voto. Então, esses aparecem mais”, avalia.
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