artigo do amigo Tony Bahia pubvlicada no Gazeta do Triangulo em 22.07.08
* Antonio S. Silva (Tony Bahia)
A afirmação de que o mundo se revolucionou com a tecnologia da comunicação, de fato, é uma assertiva incontestável, embora seja questionável o que diz respeito ao pensamento crítico. Em qualquer lugar no mundo é possível, na atualidade, acessar notícias de qualquer país, cidade, município em todos os lugares do planeta. Uma espécie de Aldeia Global, que nos coloca diante da comunidade mundial sem ter direito a dizer que desconhece o que se passa, mesmo considerando que haja a preferência de grande parte da sociedade pelo entretenimento e prazeres tecnológicos. Como exemplo, um araguarino que viva a milhas de distância de sua terra natal convive diariamente com os fatos escritos ou narrados no cotidiano localmente. Ou seja, somos participantes dos acontecimentos e das diversas realidades que ocorrem na cultura local, seja onde estiver, a um passo do teclado do computador.
Como os jornais a cada dia deixam inexoravelmente o encantamento pelo papel e transformam notícias impressas em bytes, Araguari passa a ser lida e vista por aqueles que, embora fisicamente a distância, podem imaterialmente conviver com o espaço público do município mineiro, ao ler cotidianamente o jornal a Gazeta do Triângulo on-line, sites locais e ouvir rádios da cidade. Os internautas, a um click, puderam acompanhar a triste realidade da queda da canalização do córrego da Avenida Cel. Theodolino Pereira de Araújo, hoje, cartão postal da cidade. Deveras uma catástrofe que mexeu com a vida da comunidade como um todo, e não somente dos comerciantes da área, penalizados pela falta de clientes, que teriam de peregrinar para chegar ao estabelecimento desejado, em meio à poeira e desconforto. Após muita discussão, dificuldades em conseguir verbas, e, apesar da demora peculiar ao serviço público, finalmente foi resolvido o problema que, sem dúvida, deixou um grande enigma: de quem é a culpa do desgaste: da natureza responsável pelo seu equilíbrio, daí a corrosão do material que compõe a canalização? Ou do poder público municipal que não se adiantou às intempéries? A rigor, verdadeiramente, a natureza carreou verbas públicas rio a baixo.
A violência no município tem sido um dos pontos mais críticos da cidade, afinal como pode haver tantas mortes, acidentes, estupros, tantas questões a serem resolvidas pela justiça no dia-a-dia. O lastro da violência atravessa fronteira, como no caso de mortes misteriosas de várias jovens envolvendo pessoas de outro estado. Isto nos faz lembrar o caso Ramiro Matildes Siqueira, “o bandido da cartucheira”, cujo autor saiu da região metropolitana de Belo Horizonte e assassinou várias famílias no município, sendo preso pela polícia goiana em Corumbaíba. Bem verdade, que ficou preso por pouco tempo, sendo misteriosamente morto, em 1981, conforme pesquisa de aluna de jornalismo de faculdade de Goiânia, em projeto de conclusão de curso, ainda sendo terminado, orientado por este articulista.
Entretanto, o que chama a atenção sobre o município é a costumeira política, que, sem lideranças de expressão que aglutinem votos, todos os candidatos que se apresentem, potencialmente, têm condições de vencer o pleito – aliás, o novo assusta. O cargo de chefe do executivo, sobremaneira, se mostra cobiçado por muitos, embora haja os aventureiros religiosos, que a cada quatro anos se adiantam como candidatos. Infelizmente, muitos não se expuseram à comunidade como representantes dos interesses da cidade, mas apenas de olho na “glamourosa” administração pública, sem avaliar a grande responsabilidade pela melhoria da qualidade de vida da população. A vitória, portanto, estaria condicionada somente a alguns fatores, como verba e apoio de líderes de opinião, geralmente cooptados nesta época.
Dizer que Araguari é uma cidade igual às outras, não se faz verdade, a começar pela sua história, que foge às comparações apressadas. Guarda um passado rico, de prosperidade social e econômica, um tempo que deixa suas marcas na arquitetura que aos poucos se perde pelo avanço oportunista de empresários e passividade – ou talvez desconhecimento histórico – das autoridades públicas. O futuro, contudo, depende do que será feito daqui para frente. Mais uma vez a consciência, organização e a união da comunidade em torno dos interesses coletivos vão delimitar o que será Araguari, e não somente depender das notórias autoridades públicas. Caminho por onde passa a educação de qualidade, a cultura, a economia e, sobretudo, a política - esta que nem sempre pôde ser entendida como um modelo de responsabilidade com o bem público.
A rigor, Araguari não é apenas um município do triângulo mineiro, mas uma cidade da aldeia global. Com responsabilidade e conhecimento transformar-se é inevitável.
*Mestre em comunicação e professor universitário ( antoniosilvy@gmail.com
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