terça-feira, 26 de fevereiro de 2008
Juiz Odilon de Oliveira, uma história exemplar neste Brasil nada exemplar
Trabalhando há um ano em Ponta Porã (MS), na fronteira com Paraguai, o juiz de direito Odilon de Oliveira já condenou 114 traficantes. À noite, ele estende o colchonete no chão da sala onde fica seu gabinete, puxa um edredom e dorme ali mesmo. No fórum da cidade, sete agentes da Polícia Federal, fortemente armados, dão segurança permanente ao juiz que está condenado à morte pelo crime organizado. O juiz vive confinado no fórum, só sai quando é extremamente necessário, e ainda assim sob forte escolta.Em um ano, o juiz Odilon de Oliveira condenou 114 traficantes a penas que, somadas, atingem 919 anos e seis meses de cadeia, e ainda confiscou os bens de todos eles. O resultado dessa cruzada é que ele também perdeu a liberdade, assim como seus condenados.
Diz o juiz exemplar: "A única diferença é que tenho a chave da minha prisão". Traficantes brasileiros que agem no Paraguai estão dispostos a pagar US$ 300 mil para quem matar o juiz. Desde junho do ano passado, quando o juiz Odilon de Oliveira assumiu a vara de Ponta Porã, porta de entrada da cocaína e da maconha distribuídas em grande parte do País, as organizações criminosas tiveram muitas baixas. Nos últimos 12 meses, sua vara foi a que mais condenou traficantes no País. Oliveira confiscou ainda 12 fazendas, em um total de 12.832 hectares, 3 mansões (uma delas, em Ponta Porã, avaliada em R$ 5,8 milhões), 3 apartamentos, 3 casas, dezenas de veículos e 3 aviões, tudo comprado com dinheiro das drogas. Por meio de telefonemas, cartas anônimas e avisos mandados por presos, Oliveira soube que estavam dispostos a comprar sua morte. Diz ele: "Os agentes descobriram planos para me matar, inicialmente com oferta de US$ 100mil". No dia 26 de junho, o jornal paraguaio La Nación informou que a cotação do juiz no mercado do crime encomendado havia subido para US$ 300 mil. "Estou valorizado", brincou o juiz Odilon de Oliveira. Ele recebeu um carro com blindagem para tiros de fuzil AR-15 e passou a andar escoltado. Para preservar a família, mudou-se para o quartel do Exército e, em seguida, para um hotel. Há duas semanas, decidiu transformar o prédio do Fórum Federal em casa: "No hotel, a escolta chamava muito a atenção e dava despesa para a Polícia Federal". É o único caso de juiz que vive confinado no Brasil, por enquanto. . A sala de despachos de Odilon de Oliveira virou quarto de dormir. No armário de madeira, antes abarrotado de processos, estão colchonete, roupas de cama e objetos de uso pessoal. O banheiro privativo ganhou chuveiro. A família (mulher, filho e duas filhas, que ia mudar para Ponta Porã, teve de continuar em Campo Grande). O juiz só vai para casa a cada 15 dias, com seguranças. Odilon de Oliveira teve de abrir mão dos restaurantes e almoça um marmitex, comprado em locais estratégicos, porque o juiz já foi ameaçado de envenenamento. O jantar é feito ali mesmo. Entre um processo e outro, toma um suco ou come uma fruta. Comenta o juiz: "Sozinho, não me arrisco a sair nem na calçada". Uma sala de audiências do fórum virou dormitório, com três beliches e televisão. Quando o juiz precisa cortar o cabelo, veste colete à prova de bala e sai com a escolta: "Estou aqui há um ano e nem conheço a cidade". Na última vez que foi a um shopping, foi abordado por um traficante. Os agentes tiveram de intervir. Azar do tráfico que o juiz tenha de ficar recluso. Acostumado a deitar cedo e levantar de madrugada, ele preenche o tempo com trabalho. De seu "bunker", auxiliado por funcionários que trabalham até alta noite, vai disparando sentenças. Como a que condenou o megatraficante Erineu Domingos Soligo, o Pingo, a 26 anos e 4 meses de reclusão, mais multa de R$ 285 mil e o confisco de R$ 2,4 milhões resultantes de lavagem de dinheiro, além da perda de duas fazendas, dois terrenos e todo o gado. Carlos Pavão Espíndola foi condenado a 10 anos de prisão e multa de R$28,6 mil. Os irmãos Leon e Laércio Araújo de Oliveira,
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Modelo de conduta que deveria ser rotina se tornou artigo de luxo. Pobre Brasil...
ResponderExcluirModelo de conduta que deveria ser rotina se tornou artigo de luxo. Pobre Brasil...
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